As casas de apostas ganharam espaço no Brasil em ritmo acelerado, dominando o cenário esportivo, especialmente o futebol, e avançando também sobre o entretenimento. Diante desse protagonismo crescente, essas empresas passaram a assumir um papel de responsabilidade direta na prevenção à ludopatia, o vício em jogos, principalmente após a regulamentação oficial do setor.
Com a regulamentação das apostas esportivas pela Lei 14.790, o mercado passou a exigir práticas que preservem a integridade da indústria e a saúde dos jogadores. Quase sete meses após a abertura oficial do mercado regulado no país, operadoras, fornecedores e influenciadores do segmento vêm implementando ações voltadas ao Jogo Responsável.
De forma geral, as plataformas contam com ferramentas para observar o comportamento dos usuários e identificar sinais que possam indicar compulsão. Também disponibilizam recursos para que os próprios apostadores estabeleçam limites pessoais de tempo e de valores financeiros.
Continua depois da publicidade
Há ainda mecanismos que permitem a autoexclusão da conta, emissão de alertas com mensagens educativas e a possibilidade de suspensão de acesso de usuários com perfil de risco.
Educação
Entre as estratégias adotadas estão ainda programas educativos e atendimento ao apostador. Empresas do setor têm buscado desenvolver soluções específicas, com foco em prevenção, diagnóstico e acompanhamento. Uma das iniciativas de destaque é o programa COMPULSAFE, criado pela Empresa Brasileira de Apoio ao Compulsivo, EBAC, que oferece apoio emocional a quem apresenta comportamentos problemáticos.
O funcionamento do programa prevê uma análise realizada por especialistas da EBAC em conjunto com as operadoras parceiras. Após a identificação de cada caso, é elaborado um plano de ação sob medida, com execução conjunta entre a plataforma e os profissionais da empresa.
Continua depois da publicidade
O processo inclui acolhimento psicológico, triagem e encaminhamento para um programa educativo com duração de até oito semanas, ofertado gratuitamente. Os conteúdos tratam do impacto da compulsão na vida das pessoas e das possibilidades de superação.
“Nosso sistema detecta indícios de comportamento problemático, gera alertas e fornece orientação. Caso o risco seja confirmado, oferecemos suporte completo para dar continuidade ao processo de recuperação”, afirma Ricardo Magri, CEO da EBAC e especialista em iGaming.
Já aderiram ao programa o Grupo NSX, responsável pelas marcas Betnacional e Mr Jack bet, o Grupo Esportes da Sorte, que opera Esportes da Sorte e Onabet, o Grupo Ana Gaming, com as casas 7k, Cassino e Vera, além da Casa de Apostas, Betsul e HiperBet.
Continua depois da publicidade
Monitoração
A regulamentação exige que as operadoras conheçam profundamente o perfil de seus usuários, de forma que possam agir rapidamente ao menor indício de comportamento nocivo.
Nesse cenário, empresas como a Paag, uma techfin que atua como integradora de soluções tecnológicas para o setor, desenvolvem sistemas que monitoram as ações dos jogadores e notificam as operadoras sempre que detectam sinais preocupantes.
No caso do grupo Ana Gaming, a política de prevenção inclui o uso de inteligência artificial para avaliar padrões em tempo real e identificar possíveis riscos. A empresa também aposta em transparência e disponibiliza recursos para que o próprio jogador tenha controle de sua atividade.
Continua depois da publicidade
Em situações em que há indícios de jogo problemático, são emitidos alertas com orientações e disponibilizadas ferramentas como autoavaliação e bloqueio voluntário. Quando necessário, o acesso pode ser limitado ou suspenso. ]
“Monitoramos continuamente o comportamento dos usuários com base em padrões de apostas e perfis de risco. A ideia é identificar casos suspeitos e apresentar caminhos de tratamento”, explica Tagiane Gomide Guimarães, Diretora Jurídica e de Integridade da Ana Gaming.
A Casa de Apostas, por sua vez, utiliza um sistema sofisticado para reconhecer jogadores que possam estar desenvolvendo dependência. Integrado ao COMPULSAFE, o processo é voltado à orientação e à criação de planos de ação personalizados. “Nosso foco desde o início é oferecer segurança, bem-estar e uma experiência positiva. Apostar deve ser uma atividade recreativa, não uma forma de rendimento. Por isso investimos em iniciativas que reforcem essa visão”, afirma Anderson Nunes, Head de Negócios da empresa.
Continua depois da publicidade
Na Galerabet, a política de proteção ao jogador combina uso de tecnologias de verificação de identidade, geolocalização para assegurar legalidade das apostas e monitoramento constante de comportamento, com o apoio de inteligência artificial. Se houver indícios de comportamento prejudicial, a empresa entra em contato diretamente com o usuário para garantir que ele esteja tomando decisões seguras.
Na HiperBet, a parceria com a EBAC é apontada como essencial para aprimorar a prevenção à ludopatia. “Estamos sempre promovendo ações educativas e mecanismos de prevenção. Desde a criação da empresa, essa responsabilidade está no nosso DNA”, diz Igor Sá, executivo da marca.
A Luckbet, plataforma nacional de apostas online, baseia seu programa de Jogo Responsável em três eixos principais, prevenção, detecção e suporte. Desde o cadastro, o usuário recebe orientações e tem acesso a ferramentas de gestão de comportamento. A empresa investe em tecnologia para monitorar a atividade de seus clientes e, quando necessário, envia sugestões de autorregulação e oferece canais de atendimento direto, inclusive com indicações de instituições especializadas.
Conscientização
Nesse cenário de crescimento das apostas, algumas vozes têm se destacado na defesa de uma postura consciente diante do jogo. É o caso de Daniel Fortune, influenciador digital que alerta sobre os perigos da compulsão com uma abordagem voltada ao público mais jovem. Ele busca incentivar o consumo responsável e ampliar o debate sobre os efeitos negativos da dependência.
“A presença das apostas online já está consolidada no Brasil. Por isso, precisamos investir na educação do público, gerar consciência e oferecer apoio aos jogadores. Isso garante a confiança do público e cria um ambiente mais seguro e equilibrado”, afirma o influenciador.
Fortune também é o primeiro do setor a estabelecer parceria com a EBAC para ampliar a divulgação de conteúdos educativos sobre o tema. Recentemente, também fechou acordo com a advogada Beatriz Gimenez Costa, vice-presidente da Comissão de Apostas da OAB-SP, e com a Faz1Bet para promover o Jogo Responsável.
A adoção de práticas de prevenção é vista como um benefício não só social, mas estratégico para as operadoras. “Além de cumprir com seu papel ético, o combate ao vício colabora para a sustentabilidade e a imagem positiva do setor”, diz a executiva da Ana Gaming.
Ela reforça que essas políticas ajudam a preservar a saúde dos jogadores e a garantir o cumprimento da legislação, reduzindo riscos legais e fortalecendo a credibilidade das marcas. A Galerabet também entende que, ao promover o jogo como forma de entretenimento saudável, o setor tende a crescer de forma sólida, mantendo a fidelidade dos usuários.
Na EstrelaBet, esse compromisso inclui a utilização de tecnologias para identificação de riscos, recursos de autoexclusão e análises baseadas em dados. “Firmamos parceria com a Universidade FUMEC para desenvolver um programa pioneiro que une tecnologia, suporte psicológico gratuito e capacitação da equipe. Já contávamos com uma matriz de risco e, com o apoio da universidade, conseguimos aprimorá-la”, relata Fellipe Fraga, Diretor de Negócios e Relações Institucionais da EstrelaBet.
Segundo ele, o trabalho da empresa já foi reconhecido com premiações no BiS Awards e no EGR Marketing and Innovation Awards 2025, ambas na área de combate à ludopatia.
Patrocinadora de São Paulo e Fluminense, a Superbet atua é integrante da ANJL (Associação Nacional de Jogos e Loterias) e, desde abril deste ano, tem uma parceria ativa com o IPJ, o Instituto de Proteção ao Jogador, que oferece auxílio 24h com profissionais multidisciplinares para o atendimento gratuito de pessoas com sintomas iniciais de ludopatia.
Além disso, a plataforma da Superbet possui ferramentas para suporte a Jogo Responsável, como limites de depósito, de saque e de tempo de uso, alertas de realidade e possibilidades de autoexclusão. A empresa também capacita seus influenciadores a promoverem conteúdo ético e consciente e já promoveu campanhas de jogo responsável. Recentemente, ainda realizou workshops de integridade para atletas dos clubes de futebol patrocinados para combater a manipulação de resultados.
Fonte: Infomoney.com