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Varejo ainda oscila entre a restrição por juros altos e os estímulos à demanda

A segunda queda mensal seguida nas vendas do varejo, divulgada nesta terça-feira (8) pelo IBGE, reforça a leitura da eficácia do aperto da política monetária praticado pelo Banco Central desde setembro do ano passado, mas também ilustra que essa desaceleração da demanda interna será gradual, dizem os economistas. Para eles, o mercado de trabalho ainda […]


A segunda queda mensal seguida nas vendas do varejo, divulgada nesta terça-feira (8) pelo IBGE, reforça a leitura da eficácia do aperto da política monetária praticado pelo Banco Central desde setembro do ano passado, mas também ilustra que essa desaceleração da demanda interna será gradual, dizem os economistas. Para eles, o mercado de trabalho ainda robusto e os efeitos das medidas de estímulo do governo devem impedir quedas bruscas.

As vendas no varejo restrito caíram 0,2% em maio, após recuo de 0,4% em abril. No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças, material de construção e atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo, o volume de vendas cresceu 0,3% em maio. Mas no acumulado de 12 meses, ainda há registro de altas significativas: + 3,0% no conceito restrito e +2.4% no ampliado.

A XP destaca em sua análise que a divisão setorial das vendas varejistas não foi tão ruim em maio, já que 6 em cada 10 atividades de varejo aumentaram mensalmente. Os destaques nessa comparação foram os “Produtos Farmacêuticos, Higiene Pessoal e Cosméticos”, marcando o quinto ganho consecutivo; “Vestuário e Calçado”, apresentando a quarta alta consecutiva; e “Hiper/Supermercados”, com avanço de 2,3% no acumulado do ano.

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Além disso, lembrou a XP, os grupos “Material e equipamento de escritório, informática e comunicação” e “Mobiliário e eletrodomésticos” retomaram o crescimento, após números decepcionantes na leitura anterior.

Do lado negativo, foi citado o grupo “Combustíveis e Lubrificantes”, que registrou a terceira queda consecutiva. As vendas de “Outros Artigos Pessoais e Domésticos” e “Atividades de Cash & Carry para Produtos Alimentícios e Bebidas” também tiveram um desempenho ruim em maio.  

Mas a XP alertou que as vendas no varejo apresentaram flutuações significativas no período recente e, por isso, é preciso cautela na avaliação dos resultados mensais.

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“Em geral, as vendas no varejo corroboram nosso cenário de desaceleração gradual da demanda interna. Acreditamos que os segmentos de varejo sensíveis à renda permanecerão resilientes no curto prazo”, disse a XP, citando como exemplo, supermercados, alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos.

Por outro lado, foi feito o alerta de que o mercado de crédito vem perdendo força em meio a taxas de juros restritivas e alto endividamento das famílias, o que deve pesar em segmentos como veículos, produtos eletrônicos e materiais de construção.

“Estamos cada vez mais confiantes de que o aperto da política monetária está sendo eficaz. Setores mais sensíveis ao ciclo econômico, como indústria de transformação e varejo, perderam força nos últimos meses. E isso deve continuar ao longo do segundo semestre deste ano”, disse a XP.  

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Luis Otávio Leal, economista chefe da G5 Partners, também citou em sua análise que a desagregação do varejo ampliado entre “renda” e “crédito” sugere uma desaceleração com relação a 2024.

“Chama a atenção a segunda surpresa negativa em sequência com o resultado do varejo ampliado – mais importante para o cálculo do PIB. No entanto, esse segmento atingiu em março deste ano o maior patamar da série histórica, de modo que é natural esperar algum tipo de acomodação na margem”, comentou.

Para Leal, serão necessários mais dados para averiguar se o varejo ampliado está, realmente, em processo de desaceleração mais forte do que antecipado. “Por ora, a expectativa ainda é de perda de ritmo gradual do setor, e da economia brasileira como um todo.”

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Perda de fôlego

Na opinião de Claudia Moreno, economista do C6, o resultado abaixo do esperado em maio reforça a expectativa de que o setor vai perder força neste ano. “Nossa projeção é de que as vendas no varejo ampliado fechem 2025 com crescimento próximo a 1,5%. Vale lembrar que, no ano passado, esse aumento foi de 3,7%”, comparou. 

O mesmo raciocínio vale para a projeção da economia brasileira como um todo, que deve crescer menos que em 2024. “Entendemos que essa perda de fôlego é reflexo dos juros mais altos, que tendem a impactar os investimentos. Esperamos que o PIB cresça 2% em 2025 e 1,5% em 2026, impulsionado pelos estímulos promovidos pelo governo, como o aumento de gastos, a liberação de recursos do FGTS para os trabalhadores e o incentivo à concessão de crédito”, estimou.

Claudia Moreno acrescentou que os números do varejo não alteram a projeção do C6 de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter os juros estáveis nos próximos meses. “As últimas comunicações do Banco Central reforçam nossa expectativa de que a Selic permaneça em patamar elevado por bastante tempo, mantendo-se em 15% até o final de 2026”, afirmou.

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Rafael Perez, economista da Suno Research, também avaliou que o arrefecimento recente do varejo reflete uma acomodação após o desempenho bastante robusto do setor no primeiro trimestre.

“A moderação da atividade econômica neste segundo trimestre indica que os efeitos defasados da política monetária mais restritiva estão começando a aparecer de forma mais clara. Além disso, o elevado nível de endividamento das famílias segue como um limitador relevante para o consumo”, explicou.

O economista da Suno disse esperar que o ritmo de crescimento da atividade no segundo trimestre seja mais moderado do que no início do ano, mas ainda assim consistente. Isso será reflexo, segundo ele, de uma combinação de fatores que, até agora, têm atenuado os impactos da política monetária restritiva sobre o setor e beneficiado o consumo das famílias. “Tais como a resiliência do mercado de trabalho, estímulos do governo, a recente valorização do real e a antecipação do 13º do INSS no mês de maio”, listou.

Já André Valério, economista sênior do Inter, comentou que o resultado do varejo em maio não foi tão ruim quanto o headline sugeriu. “Tivemos avanços em diversas categorias e muitas delas mais sensíveis à demanda discricionária. O varejo mais sensível à crédito avançou 1,3% em maio, recompondo as perdas de abril, enquanto o sensível à renda ficou estável pelo segundo mês consecutivo”, explicou.

Valério também detalhou que a queda do índice cheio foi muito influenciada pelo desempenho de combustíveis e pelo baixo crescimento do subgrupo de super e hipermercados, dois dos grupos com maior peso no índice.

“De toda forma, o desempenho forte das outras atividades parece ser mais uma recomposição de perdas passadas do que uma mudança de tendência. Com as condições financeiras adversas e boa parte do aperto monetário realizado pelo Banco Central ainda por ser sentido, esperamos que o setor perca força gradualmente ao longo do restante do ano.”

Leonardo Costa, economista do ASA, foi outro especialista a enxergar que a pesquisa de maio do IBGE apontou para a perda de fôlego na atividade varejista. “Além do desempenho mensal fraco, chama atenção o fato de que, no acumulado do ano, os avanços seguem modestos: 2,2% no varejo restrito e 1,1% no ampliado, reforçando a leitura de um consumo doméstico que ainda opera em ritmo comedido em 2025, com desaceleração nos últimos meses”, disse.

Ele complementou que a média móvel de 3 meses do indicador mostra estagnação nas vendas, com alta de apenas 0,1% no varejo e estabilidade no ampliado, indicando fraqueza na tendência de curto prazo.

Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, a expectativa é de desaceleração no ritmo de expansão do comércio, refletindo a retirada dos estímulos fiscais e de crédito, além dos efeitos ainda presentes da inflação e dos juros elevados.

“Apesar desse cenário mais desafiador, projetamos que a perda de dinamismo será relativamente moderada. Fatores como o mercado de trabalho aquecido e a massa salarial ainda robusta devem continuar sustentando o consumo das famílias. Mantemos, assim, a projeção de crescimento de 2% para o setor em 2025”, projetou.



Fonte:
Infomoney.com

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