Mohamed El-Erian defendeu nesta terça-feira (22) a renúncia imediata de Jerome Powell da presidência do Federal Reserve (Fed) como forma de proteger a independência da autoridade monetária dos EUA, em meio a ataques persistentes do ex-presidente Donald Trump.
“O quanto antes Powell deixar o cargo, menor será o risco de os ataques se tornarem uma ameaça existencial ao Fed”, disse El-Erian em entrevista à CNN, complementando um posicionamento anterior publicado na rede X em que disse: “Se o objetivo do presidente Powell é salvaguardar a independência operacional do Fed (que considero vital), então ele deveria renunciar.”
Para ele, o presidente do Fed já está se tornando um “pato manco” (líder enfraquecido), e sua permanência só prolongaria o desgaste institucional.
Ex-CEO da gestora Pimco e atualmente presidente do Queens’ College da Universidade de Cambridge, El-Erian afirmou que possíveis sucessores de Powell são “respeitados” e que, embora haja volatilidade no curto prazo, o impacto seria menor do que o causado por meses de embates públicos com Trump.
Trump, que tece críticas frequentes a Powell, disse nesta terçaque ele é um “idiota” que manteve as taxas de juros muito altas, mas que sairá em oito meses, voltando a sugerir que não pretende demiti-lo.
No entanto, no mesmo dia, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, um dos cotados para assumir o Fed, classificou Powell como “um bom servidor público” e que cabe a ele decidir se permanece até o fim do mandato, mas defendeu que operações de política não-monetária do Fed passem por uma revisão, por suposto “desvio de mandato”.
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Isso acontece em meio a uma pressão sobre supostas irregularidades em uma reforma realizada no prédio do Fed, o que alguns apontam como possível pretexto para demissão de Powell.
Isolado
A opinião de El-Erian pela renúncia de Powell está longe de ser consensual. Alan Blinder, ex-vice-presidente do Fed, criticou fortemente a ideia. “Isso seria como dizer que, quando você está sofrendo bullying, a melhor coisa a fazer é ceder. Espero que Powell continue lutando até o fim de seu mandato”, disse ele à CNN. Segundo Blinder, uma renúncia abriria um precedente perigoso.
O atual mandato de Powell termina em maio de 2026. Trump, que nomeou Powell em 2017, vem pressionando o Fed por cortes nos juros, alegando que as taxas altas prejudicam o acesso ao crédito e ampliam os custos da dívida pública. “Ele é um cabeça-dura”, disse Trump na terça-feira, acusando Powell de manter os juros altos por motivos políticos.
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Ed Mills, analista da Raymond James, alertou que uma eventual saída de Powell poderia provocar uma reação oposta à esperada por Trump. “Se ele renunciar, os juros podem subir, não cair”, afirmou. Na semana passada, rumores sobre a possível demissão do presidente do Fed causaram queda nos índices acionários e no dólar, além de alta nos yields dos títulos.
Apesar da pressão, Powell já declarou publicamente que não pretende deixar o cargo antes do fim do mandato. “Nunca deixaria esse trabalho voluntariamente antes do fim do meu mandato, sob nenhuma circunstância”, afirmou ele em declaração registrada em 2022.
Fonte: Infomoney.com