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Milei passa por seu momento mais difícil na véspera das eleições argentinas

As cédulas e urnas estão prontas. Neste domingo (26), começa a votação para as eleições legislativas de meio de mandato na Argentina, e todos os olhares, dentro e fora do país, especialmente nos Estados Unidos de Donald Trump, estão voltados para o resultado do governo de Javier Milei. O partido governista chega neste domingo (26) […]


As cédulas e urnas estão prontas. Neste domingo (26), começa a votação para as eleições legislativas de meio de mandato na Argentina, e todos os olhares, dentro e fora do país, especialmente nos Estados Unidos de Donald Trump, estão voltados para o resultado do governo de Javier Milei.

O partido governista chega neste domingo (26) abalado pela alta volatilidade do dólar, que continua inabalável apesar dos anúncios de resgate do Tesouro dos Estados Unidos.

Na Argentina, esse tipo de movimento é acompanhado pela ameaça de desvalorização do peso e levanta a possibilidade de um retorno à inflação mensal de dois dígitos que o governo Milei conseguiu conter em seus primeiros anos de mandato.

A frente econômica, no entanto, não é seu único desafio.

O governo Milei foi duramente atingido por sua derrota nas eleições legislativas de setembro na Província de Buenos Aires — o distrito mais populoso do país — e pela necessidade de garantir um número de legisladores que lhe permita avançar em suas reformas e sustentar seu plano econômico pelos dois anos restantes de seu mandato.

As próximas eleições, portanto, definem muito mais do que a renovação de metade das cadeiras de deputado e um terço das de senador no Congresso. Em eleições de importância econômica, estratégica e até geopolítica, Milei enfrenta o maior teste que já enfrentou desde que assumiu a Presidência. Estas são as cinco chaves para esse desafio.

Uma força com pouca representação Legislativa

Hoje, o bloco que representa o Libertad Avanza (Liberdade Avança), o partido governista, detém 44 das 257 cadeiras da Câmara Baixa e seis das 72 da Câmara Alta.

Para evitar que seus decretos sejam vetados pelo Congresso, o presidente precisa de pelo menos um terço de uma das casas, ou seja, pelo menos 86 deputados ou 24 senadores, para não depender exclusivamente de alianças com outros partidos.

Em seu primeiro ano de governo, e apesar de não ter parlamentares suficientes, Milei conseguiu aprovar uma mega lei que incluiu mudanças em diversas áreas do governo e sustentou vários vetos graças ao apoio de deputados e senadores que se reportavam a outros partidos, especialmente ao PRO (Partido Progressista do ex-Presidente Mauricio Macri) e, sobretudo, a governadores aliados.

No entanto, durante seu segundo ano, houve promessas não cumpridas pelo partido no poder, um diálogo desgastado com os governadores, aos quais muitos dos legisladores aliados se reportam, e saídas dentro do partido para outros blocos.

Durante a corrida eleitoral deste ano, a análise sobre qual seria o melhor resultado para o partido governista mudou.

Antes das eleições de Buenos Aires, quando ainda havia esperança de uma boa eleição no distrito mais populoso do país, a especulação sobre a obtenção de 80 a 90 cadeiras na eleição geral poderia ter dado ao governo espaço para buscar 129: o número necessário para atingir o quórum em uma sessão e avançar em reformas profundas.

Após perder por mais de 13 pontos na província de Buenos Aires, as expectativas mudaram, e consolidar um terço dos legisladores naquela Casa para bloquear leis não relacionadas parece ser um resultado mais realista.

No entanto, mesmo com um resultado muito favorável, o governo terá que chegar a um acordo com outras forças se quiser avançar nas reformas pendentes para consolidar seu plano econômico e de governo.

Os dados que serão monitorados de perto são quanto apoio eleitoral o partido terá no dia seguinte para negociar com potenciais aliados e qual incentivo outras forças políticas terão para apoiar um governo que pode ser percebido como fraco se obtiver um número baixo de votos.

O Primeiro Revés Eleitoral: Província de Buenos Aires

Em 7 de setembro, foram realizadas as eleições legislativas na Província de Buenos Aires.

A margem de quase 14 pontos percentuais com que o partido de Milei perdeu para o peronismo desafiou as expectativas do partido governista.

A estrutura eleitoral para as eleições gerais no restante do país incluiu poucas figuras nacionalmente conhecidas e forças de terceiros lideradas por governadores que sugerem uma possível fragmentação do voto.

Após a derrota na província de Buenos Aires, o apoio que ela desfrutava no Congresso mudou, e ambas as casas conseguiram manter as leis de emergência sobre deficiência, emergências pediátricas e financiamento universitário, apesar do veto de Milei.

Essas leis mobilizaram a sociedade argentina e geraram protestos massivos em todo o país em defesa dos direitos das pessoas com deficiência, garantindo o funcionamento do Hospital Garrahan — o hospital infantil mais importante do país, que trata de patologias complexas em crianças — e o funcionamento de universidades públicas e ensino superior gratuito. Um feito que não havia sido alcançado no primeiro ano de governo libertário.

A casta é a outra

O partido governista chegou às eleições de Buenos Aires abalado por casos de corrupção que investigam uma rede de supostas propinas coletadas pela NAD (Agência Nacional de Deficiência) e envolvendo sua irmã e secretária-geral da Presidência, Karina Milei (o governo nega as acusações e alega haver uma “campanha suja” contra ela).

E pela lembrança do golpe da Libra$, no qual o presidente está sendo investigado por cumplicidade na promoção de um ativo digital que disparou e despencou em poucas horas.

Após chegar ao poder com uma retórica “anticasta” e “anticorrupção”, ambos os escândalos mancharam sua imagem de “outsider” e o enfraqueceram perante o eleitorado que havia sido seu principal fator de diferenciação.

Agora, às vésperas das eleições legislativas nacionais, um novo escândalo domina a campanha. Seu principal candidato na província de Buenos Aires, José Luis Espert, foi acusado de supostas ligações com um suposto traficante de drogas e retirou sua candidatura semanas antes da eleição.

Espert declarou que “não tem nada a esconder”. No entanto, devido ao tempo de reimpressão e à decisão do tribunal eleitoral, as cédulas terão o nome e o rosto de Espert, e essa será a primeira coisa que os eleitores da província com o maior número de votos verão quando forem às urnas em 26 de outubro.

Se perder, Washington não será generoso

Após a pesada derrota nas eleições na província de Buenos Aires, não apenas os aliados políticos, mas também os mercados reagiram. No dia seguinte, o dólar oficial subiu quase 50 pesos, as ações das empresas argentinas listadas em Wall Street caíram e o índice de risco-país ultrapassou 1.000 pontos.

Quase 20 dias após esse resultado, chegou a primeira mensagem de Washington: o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, anunciou uma lista de possíveis resgates para a Argentina.

Por trás do anúncio estava a compra direta de pesos no mercado de câmbio argentino — manobra que, segundo o Federal Reserve Bank de Nova York, os Estados Unidos só haviam executado quatro vezes, e em situações excepcionais, desde 1996 —, o apoio explícito do presidente Donald Trump a Javier Milei e um encontro presencial, há quase duas semanas, que deixou mais perguntas do que respostas.

“Se ele perder a eleição, não seremos generosos com a Argentina”, disse Donald Trump quando questionado sobre a ajuda americana à Argentina.

No entanto, o partido governista aposta em números que podem ser apresentados como uma vitória, mesmo que as perspectivas não sejam as ideais, e busca aproximação com aliados políticos que possam garantir a governabilidade que o governo Trump tanto almejava.

O interesse dos Estados Unidos em manter um aliado na região em sua disputa com a China, a riqueza da Argentina em recursos subexplorados, como urânio, lítio e terras raras, e questões estratégicas como portos, bases, represas e comunicações são razões pelas quais Washington também concentrará sua atenção nesta eleição de meio de mandato.

Presidente da Argentina, Javier Milei, e presidente dos Estados Unidos, Donald Trump • 23/09/2025 REUTERS/Al Drago

Estabilidade do plano econômico e reformas legislativas

Enquanto a especulação eleitoral se concentra na porcentagem de votos obtidos tanto pelo partido governista quanto pela oposição — e na composição de ambas as casas a partir de dezembro — a resposta virá no dia seguinte.

A posição do governo, a ampliação da base de acordos políticos, as mudanças ministeriais — que começaram antes mesmo das eleições — e, sobretudo, a resposta do mercado, determinarão o resultado desta disputa eleitoral.

A continuidade das medidas econômicas do governo também dependerá da interpretação dos resultados. O ministro da Economia, Luis Caputo, garantiu que não modificará as bandas cambiais — que contêm a alta do dólar — após as eleições, apesar da pressão sobre a moeda que vem sendo sofrida nas últimas semanas.

Além disso, teremos que aguardar o que acontece com a dívida, que está aumentando devido às intervenções americanas, e uma possível reação negativa semelhante à que se seguiu às eleições de Buenos Aires, o que poderia novamente desencadear o risco-país e prejudicar os títulos e ações argentinas em Wall Street.

Por outro lado, o governo tem reformas trabalhista, tributária e previdenciária pendentes que, segundo o presidente, são necessárias para estimular o crescimento econômico do país e o investimento estrangeiro.

“Reforma tributária, reforma trabalhista e muita desregulamentação econômica estão por vir”, disse ele no mês passado na Bolsa de Valores de Córdoba.

Resta saber qual estratégia ele usará em seu segundo mandato presidencial para promover posições que o ajudem a avançar com essas reformas. Os resultados das eleições deste domingo podem aproximá-lo ou afastá-lo de seu plano e forçá-lo a enfrentar a necessidade de mudanças significativas de direção.



Fonte: CNN

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